Todos somos dependentes químicos. Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) reserve essa qualificação às pessoas viciadas no uso de substâncias psicoativas, a verdade é que todos os seres dependem de um conjunto de elementos e compostos químicos. Somos dependentes do oxigênio, da água e dos nutrientes vindos dos alimentos. Fórmulas químicas descrevem proteínas, carboidratos, lipídios e sais minerais, itens indispensáveis à vida. Reações químicas explicam como transformamos em energia o que ingerimos. Toda matéria, visível ou invisível, é feita de substâncias registradas na Tabela Periódica. Sendo assim, se existe química em nossos organismos e em tudo o que nos cerca, estamos falando de uma ciência central em nossas vidas.
Engana-se quem situa a química e a natureza em oposição, até porque o conhecimento dos químicos é cada vez mais colocado a serviço de soluções para os problemas ambientais causados pela ação humana. Químicos impulsionam inovações que permitem o reuso da água, a criação de artigos biodegradáveis, o reaproveitamento de materiais descartados e a queda na emissão de gases causadores de efeito estufa — entre outros benefícios. Novas tecnologias aprimoram processos industriais, diminuindo o uso de recursos naturais, o gasto de energia e a eliminação de poluentes.
Empregar o conhecimento científico na criação de soluções benéficas para o meio ambiente é uma noção que conta com o pleno apoio do Conselho Federal de Química (CFQ) e dos nossos Conselhos Regionais (CRQs). Elaborado no ano passado, o Planejamento Estratégico do Sistema CFQ-CRQ estabelece que a missão das respectivas instituições é “promover a atividade plena da química, com vistas a contribuir para o desenvolvimento sustentável do país”. A diretriz adota a compreensão de que a sustentabilidade não deve ser apenas econômica, mas também socioambiental.
Criado para orientar a atuação do Sistema CFQ-CRQ até 2028, o Planejamento Estratégico assinala um novo tempo para as nossas entidades. Define caminhos para ampliarmos e melhorarmos a nossa capacidade de ação, em benefício dos profissionais da química, do desenvolvimento científico e do progresso do país.
Vivemos um tempo de grandes e rápidas mudanças, e os conselhos profissionais não podem fugir à necessidade do seu contínuo aperfeiçoamento. À medida que avançamos na execução do Planejamento Estratégico, promovemos a mais intensa modernização das nossas atividades desde que o Sistema CFQ-CRQ foi criado, em 18 de junho de 1956.
Naquela época, o Brasil era um país essencialmente agrário, engajado em um surto de industrialização que mudou a face da economia e acelerou a urbanização. Hoje, somos a oitava potência mundial em indústria química instalada. Contudo, a exemplo dos pioneiros da indústria brasileira, também temos um desafio à frente. No nosso caso, somos impelidos a alinhar os processos produtivos com as justificadas demandas por sustentabilidade socioambiental.
A economia deste século tende a ser menos tolerante com cadeias produtivas caracterizadas pela ineficiência no gasto energético e no consumo de materiais. O mesmo vale para atividades que geram resultados danosos à saúde das pessoas e dos ecossistemas. De modo oposto, oportunidades valiosas aguardam os setores que se mostrarem capazes de reinventar seus processos para maximizar a eficiência e diminuir radicalmente os impactos ambientais negativos.
O empenho em articular o conhecimento químico com as demandas ambientais resultou na criação do conceito de química verde, instituído nos Estados Unidos no final do século XX. A ideia abrange a invenção, o desenvolvimento e a aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias nocivas de algum modo à saúde humana ou ao meio ambiente.
O CFQ, como entidade responsável pela orientação e pela fiscalização das áreas profissionais associadas à química, reafirma o seu compromisso com os brasileiros que empregam a ciência em favor das metas preconizadas pela química verde. O país e o planeta só têm a ganhar com as inovações voltadas a um mundo melhor para todas as espécies. Afinal, somos todos dependentes de um planeta saudável.
José de Ribamar Oliveira Filho,
Presidente do Conselho Federal de Química.