A próxima grande onda tecnológica será alavancada pela bioeconomia. Ainda me lembro das aulas de física que uma alavanca tem a capacidade de multiplicar a força que pode ser aplicada a outro objeto, e se tratando de um processo tecnológico, arrisco dizer que esta alavanca no futuro também será orgânica. Assim como descrito por Klaus Schwab, a quarta revolução industrial é diferente de tudo que a humanidade já experimentou – e por tanto, disruptiva – onde tecnologias físicas, biológicas e digitais se fundem para moldar o mundo. As possibilidades são infinitas, mas o desafio está em garantir miríade em um mundo com recursos finitos e que muitas vezes são mal aproveitados.
A bioeconomia surge como ferramenta de mudança na sociedade e nos meios de produção, onde temos a aplicação da economia focada na utilização dos recursos de base biológica e por tanto renováveis. A principal diferença está na análise da energia no processo econômico visando uma redução do consumo de recursos não renováveis que aumentam a entropia total e por tanto, reduzem a quantidade de energia disponível no sistema. O grande objetivo é a aplicação de tecnologia para produção a partir de recursos biológicos, recicláveis, renováveis e por tanto, sustentáveis. Além disso, tem-se ainda a possibilidade da aplicação do conceito de economia circular, onde resíduos orgânicos tornam-se matéria-prima de outro processo produtivo em um fluxo contínuo e com redução de custos.
Vale ressaltar que o conceito contempla não apenas setores como agricultura e silvicultura, mas também setores onde há o emprego da biotecnologia e bioenergia. Assim, a bieconomia está presente em setores consolidados como a produção de cosméticos com uso de biotecnologia e a produção de etanol de segunda geração a partir do bagaço de cana-de-açúcar.
O Brasil tem capacidade tecnológica e abundância de recursos que são condições favoráveis ao crescimento da bioeconomia. Neste cenário, é importante ressaltar a aprovação da Portaria n. 121, de 18 de junho de 2019, que instituiu o Programa Bioeconomia Brasil – Sociobiodiversidade, visando promover a articulação de parcerias e a estruturação de sistemas produtivos baseados no uso sustentável dos recursos e do Decreto n 10.387, de 5 de junho de 2020, que incentiva o financiamento de projetos de infraestrutura com benefícios ambientais e sociais em setores como o de energia.
Recentemente, houve um fortalecimento dessas políticas proveniente do Ministério da Ciência e Tecnologia. O titular da pasta, Marcos Pontes descreveu a bioeconomia como a aposta do governo para os próximos anos, sendo ainda mais pertinentes devido à pandemia e crise econômica. Concomitantemente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) abriu uma seleção de projetos para o fortalecimento da sociobiodiversidade, envolvendo pequenos e médios produtores rurais, agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais.
Os incentivos visam dar visibilidade a bioeconomia no Brasil e na sua capacidade de promover o desenvolvimento econômico em diferentes escalas. O aperfeiçoamento da multifuncionalidades da produção através da integração entre agricultura e indústria por meio da tecnologia impulsiona a busca por soluções inovadoras, que assegurem ao mesmo tempo a biodiversidade e o desenvolvimento econômico.
Dentre os benefícios, podemos citar a resposta a escassez de recursos naturais, economia no processo produtivo, expansão de mercado e modelos de negócio, fortalecimento da reputação e credibilidade empresarial, aperfeiçoamento do capital humano, atendimento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, surgimento de novas formas de colaboração e garantia da segurança alimentar mundial.
Assim, com os avanços da tecnologia tem-se cada vez mais pesquisas envolvidas dentro da bioeconomia na fabricação de bioprodutos como biopolímeros, bioenergia, bioalimentos, biopesticidas, biomassa, biofármacos, bioinsumos, biocombustíveis e biocosméticos.
Ao que tudo indica, o futuro será bioeconômico.