O foco ambiental da nova onda ESG é notório, principalmente pelo romantismo das atividades ambientais e pelo grande peso da mídia dos impactos gerados pelas queimadas e desmatamentos. Além disso, ações voltadas ao âmbito social também parecem ser fortes candidatas aos holofotes do tema, principalmente quando se trata de instituições de caridade e apoio às ONGs.
Todo esse trabalho é importante e será de grande ajuda para o engajamento generalizado, porém, antes desse trabalho externo existe a necessidade de um forte trabalho interno e é sobre isso que quero falar agora.
A atuação da área de ESG é muito promissora, principalmente pela aproximação entre empresas e investidores, porém existe um trabalho muito forte a ser realizado antes para consolidar as bases do sistema empresarial e um destes é a gestão da transparência. Esse assunto além de importante é uma questão que se leva muito tempo para construir. Empresas costumam ter dificuldades em atuar com uma gestão transparente pela preocupação com suas fragilidades que podem criar graves problemas. Tudo isso antes de sofrer uma alteração brusca, precisa de uma atuação antecipada que é o fortalecimento do pilar da confiança entre as hierarquias.
Nesse ponto, o gestor deixa de distribuir ordens e passa a ser um facilitador, onde seu papel permanece na mesma condição hierárquica porém com uma mudança importante, fazendo com que sua responsabilidade seja a de garantir que o fluxo de informações chegue exatamente como recebido para seus liderados. A transformação para essa metodologia de gestão requer muita maturidade, pois todas as informações devem ser distribuídas igualmente e uma área específica da empresa voltada a comunicação interna deve funcionar como um relógio suíço. Melhorar essa gestão da comunicação faz com que tudo na empresa seja baseado na confiança e com isso a empresa melhora automaticamente seu relacionamento com o meio exterior, criando uma evolução da transparência para com seus stakeholders também.
A gestão dos stakeholders é o segundo fator de base para o qual a empresa precisa olhar com cautela. Criar programas para com a comunidade é interessante e tentador como um primeiro trabalho, mas esse passo deve ser dado quando for percebido quais são os itens materiais para com seus stakeholders e além disso, para que a decisão de quais stakeholders ouvir, deve ser criado um comitê interno que preze pela transparência fazendo com que as partes envolvidas tenham total liberdade de citar quais os seus anseios e ainda para que esses temas sejam trabalhados com interesse para evitar impactos negativos aos stakeholders importantes para a empresa.
Um inventário de riscos é provavelmente a forma mais alinhada de conseguir entender quais os impactos que a empresa pode causar a esses stakeholders e ainda com o uso de uma ferramenta de análise de riscos, as ações mais importantes podem ser priorizadas e as frentes de trabalho passam a ter um sentido único criando um plano sustentável para o programa de ESG da empresa. Antes de pensar em obter uma mídia positiva, a empresa precisa garantir que seu entorno está confortável com suas ações e métodos de trabalho.
As atividades ambientais e sociais são importantes e merecem o foco dos trabalhos em ESG, porém, criar planos de trabalho focados em transparência e gestão dos stakeholders fornecerá um alicerce importante para a empresa. Antes de olhar para fora, o programa de ESG precisa olhar para dentro.