Se quisermos avaliar as vantagens das agendas ESG, temos os mais diversos motivos positivos para passar a implementar dentro das empresas imediatamente. Seja no intuito da boa imagem com a comunidade, com interesse de atrair investimentos, obter melhores aportes financeiros ou até mesmo com o objetivo de otimizar a gestão empresarial, essas agendas oferecem resultados de larga escala e podem servir como divisor de águas para empresas que hoje lucram por lucrar se tornarem em empresas que lucram com propósito e responsabilidade.
A questão mais complicada e que será o grande desafio para a maior parte das empresas nessa implementação, está voltada às demandas “Ocultas” e não somente às demandas visíveis, que são hoje as maiores frentes de trabalho no ESG da mídia, como ações de inclusão social, demandas para frear a mudança climática, medidas para minimizar recursos nocivos e outras atividades que são notícias no dia a dia.
A atenção que chamo aqui para essas demandas ocultas está relacionada ao fator real de interesse das agendas ESG, que é de fato obter maturidade dos sistemas de gestão das empresas, mudando sua visão atual que é de responsabilidade pelo fato da iminência de ser cobrado, para uma visão futura de responsabilidade por precisar ser feito e nesse tema, precisamos evoluir em vários pontos, que estão escondidos abaixo do iceberg:
Fig.1: Iceberg do ESG.
Conforme vemos na imagem, tudo aquilo que está acima da linha visual é representado pelas questões do ESG que vemos diariamente nos comentários, que seria o plano superficial de trabalho. Esse plano traz alguns resultados para a empresa, oferece notas para a mídia, porém não se mantêm sem a estrutura submersa que é o ESG de fato, necessário para a implementação completa de um programa sólido. Nesses temas, cito dois que devem ser considerados os menos comentados na nova avalanche ESG e que mais preocupam para o futuro do investimento sustentável da agenda: Cumprimento de leis e normas e avaliação de materialidade pelos stakeholders.
Cumprimento de leis e normas: Esse tema é muito importante e todos sabemos que o Brasil é um dos países com maior numero de normas, regras e legislações em todas as esferas. Todo esse “Inchaço normativo” não foi criado de graça e sua causa raiz está pautada na necessidade de fazer cumprir diretrizes não realizadas de forma proativa por parte das empresas e instituições. É também sabido que existe uma grande dificuldade por parte das empresas de captar todas as legislações pertinentes e também de conseguir assumir cumprir todas as demandas, porém muitos pontos da legislação não tem cumprimento pelo simples fato de custar caro e não ter sido cobrado até então. Esse ponto é no meu entendimento uma das maiores armadilhas do ESG, principalmente porque no momento em que é questionado, sua adequação leva tempo, custa caro e existe risco de gerar impacto na mídia, ocasionando prejuízo ao acionista. Portanto esse é um dos temas que precisa ser estressado internamente nas empresas com frequência e de forma proativa a fim de evitar uma dor futura.
Avaliação de materialidade pelos stakeholders: A análise de materialidade dos temas materiais para a empresa já é comum nos relatórios de sustentabilidade e práticas de relato integrado por parte das empresas, porém uma questão que é importante e impacta diretamente no caminho das ações em ESG é a correta avaliação dos temas por parte dos stakeholders. Muitas empresas definem seus temas materiais de forma unilateral, esquivando-se assim dos temas sensíveis e críticos, deixando para um futuro próximo o risco de ser questionada pela sociedade quanto a suas ações relacionadas às agendas. Esse ponto é muito importante e requer bastante foco por parte da empresa na transparência, clareza e busca de informações com os stakeholders estratégicos. Além disso, ter o parecer dos stakeholders é uma base primordial para o alinhamento das agendas ESG, e tomar medidas e ações sem a anuência e perspectiva das partes interessadas, representa uma agenda desconexa e diferente de tudo o que se espera de uma empresa responsável nos temas ligados aos pilares ambiental, social e de governança corporativa.
Olhar para esses temas tão falados e perceber a ansiedade de todos em participar dessas agendas mostra uma evolução nos próximos anos quanto a preocupação das empresas e instituições no atendimento das novas demandas emergentes, porém, ao captar as ações desalinhadas a base não visível do ESG gera preocupação e alerta para os investidores que podem estar investindo em quem vende, não em quem faz.