É comum imaginarmos grandes riscos e impactos provenientes de grandes organizações. No entanto, ao analisarmos a configuração e porte das empresas no Brasil, é possível concluir que a maior parte dos empreendimentos brasileiros é composto por micro e pequenos negócios.
É oportuno salientar que esses empreendimentos possuem uma forte atuação no dinamismo econômico e sustentável, uma grande função de construção de um ecossistema social e econômico local para a comunidade e, geram resíduos, consomem recursos (energia, água, etc.) e afetam a natureza e sociedade de diversas maneiras.
Seguindo nesta direção e dado o atual cenário sobre a importância da sustentabilidade e ESG nas organizações e a necessidade de transição de modelos de negócio lineares visando apenas o lucro, para negócios menos impactantes, mais sustentáveis e circulares, é necessário levar para os micros e pequenos negócios dados e informações que possam ajudá-los e incentivá-los a fazerem essa transição necessária para o enfrentamento dos desafios atuais.
Além disso, é habitual a incorporação da reciclagem como única e principal estratégia para economia circular nos micros e pequenos negócios. A reciclagem faz parte do arcabouço conceitual da economia circular, mas está longe de ser a única estratégia prática para o desenvolvimento de uma jornada circular nos negócios. Essa jornada, inclusive, demanda uma mudança transformadora que implica em uma reorganização de todo o sistema através de fatores tecnológicos, econômicos e sociais.
É importante essa abordagem, pois é necessário que os empreendimentos entendam que os ambientes em que eles estão operando estão cada vez mais complexos e, a organização, segundo a ABNT PR 2030, está inserida nos pilares da sustentabilidade e não ao contrário, então, é preciso muita adaptação e alinhamento das práticas e estratégias em sustentabilidade para sobrevivência e geração de valor.
Com isso, algumas estratégias podem ser adotadas por esses empreendimentos para que eles possam ser capazes de realizar essa transição. Como primeiro destaque, o empreendedor pode e deve pensar na preservação do capital natural inerente à sua atividade. Para isso, alguns questionamentos podem ajudar nesse desafio: Quais são os riscos e impactos diretos do seu negócio ao capital natural? Como seu negócio pode ajudar na preservação do capital natural em detrimento das atividades do seu negócio? Há possibilidade de utilização de matéria-prima renovável ou reciclada para seu produto ou serviços?
Em segundo, otimizar a utilização de recursos sempre que possível. Essa pode não ser uma tarefa fácil, afinal, a depender do tipo de produto ou serviço do empreendimento, pode ser necessária a criatividade e o conhecimento sobre legislação sanitária para a prática da reutilização de materiais ou simplesmente a utilização de itens de origem reciclada, por exemplo.
Em terceiro lugar, podemos citar o fomento a eficiência dos processos, ou seja, primar pela utilização correta de diferentes equipamentos, a fim de evitar perdas ou desperdícios desnecessários de recursos e afins [1].
Já na quarta posição, é possível pensar na inovação dos negócios para que que resíduos não sejam gerados. Neste caso em específico, o empreendedor deve analisar a geração de resíduos do seu negócio dentro e fora dele, como por exemplo, as embalagens utilizadas para embalar seus produtos. É adequado se pensar que tipo de embalagens menos impactantes ele pode utilizar? Quais tipos de materiais ele utiliza nos seus processos internos e que podem ser mais circulares? Como gerar pouco resíduo dentro do seu negócio? Quais adaptações de fornecedores e materiais serão necessárias?
Além dessas sugestões, algumas dicas propostas pela Fundação Ellen Macarthur, referência em economia circular, propõe que as organizações reflitam sobre: fornecer as soluções que os clientes querem, ou seja, em um ambiente em que os consumidores estão cada vez mais interessados sobre as soluções reais e menos impactantes que as empresas podem oferecer, se adequar a oferecer aos clientes opções de produtos mais sustentáveis poder ser uma estratégia decisiva no momento da compra [2].
Há também a captura de oportunidades de negócios não exploradas, que podem ser viabilizadas pela entrega de produtos onde há a eliminação da geração de resíduos desde o princípio, o que pode resultar em benefícios comerciais, como redução de custos, fidelização à marca e conveniência do usuário. Podemos citar também, a redução das emissões de carbono, uma vez que muitas soluções que eliminam resíduos também eliminam as emissões de carbono [2].
E por último, é importante o reconhecimento do potencial que a adoção de uma agenda sustentável pode proporcionar a um micro ou pequeno negócio. A incorporação de práticas sustentáveis visando os três pilares da sustentabilidade pode transformar positivamente muitas práticas relacionadas direta e indiretamente à economia circular, ao passo que promove mudanças profundas nos processos internos e externos à organização.
Portanto, está mais que claro a importância e o papel estratégico que os micros e pequenos negócios possuem no universo empresarial e como há inúmeras possibilidades a serem exploradas para uma transição circular destes negócios.
[2] https://emf.thirdlight.com/link/uvovcks5fg2m-m125i3/@/preview/1?o