O primeiro tópico que abordarei, nesta coluna, será uma breve compreensão acerca da Sustentabilidade Empresarial (SE) e entender como esse adentrou as organizações. Dessa forma, vamos a esse.
O que se percebe, nos dias atuais, é que o homem atravessa uma profunda crise de modelos teóricos e de consumo, bem como se observa que as visões de mundo, as quais pautaram a sociedade até então, são insuficientes para dar conta das demandas que a humanidade e o planeta possuem.
Vivemos, num mundo, em que o consumo praticado deve ser redimensionado. Nos últimos 30 anos, consumiu-se mais ou menos de 33% dos recursos naturais do planeta. Se pegarmos o caso dos Estados Unidos e esse continuar consumindo, no ritmo no qual se encontra, precisar-se-á de mais quatro planetas iguais a Terra em recursos naturais para suprir a necessidade da humanidade nos próximos cem anos. O problema é que só temos um.
Entretanto, sabe-se que, há cerca de 40 anos, já existia alguma consciência de que a sociedade e a Terra já vivenciavam um momento de transição, alguns estudiosos até afirmavam sê-lo de crise, contudo, naquela época se acreditava ainda na emergência de uma etapa mais rica e mais abundante que a anterior no que se tocava aos avanços tecnológicos, ao empreendedorismo, à inovação, ao capitalismo verde – termo cunhado, em 1987, por John Elkington, e usado no seu livro intitulado de The green capitalists – e ao marketing verde. O que se presenciou, todavia, contemporaneamente, é que essas mudanças estão acontecendo de forma muito lenta e que se necessitava de atitudes mais enfáticas e rápidas.
Nos anos de 1970, contudo, o futuro começou a ser vislumbrado de forma menos entusiasta e a sensação de degradação passou a ser uma constância no cotidiano das pessoas. Desde então, a sensação de “crise” tem aumentado. Nota-se que, na atualidade, o método mais apropriado para contrapor o modelo civilizatório vigente, o qual se apresenta cada vez mais como ineficaz frente aos novos desafios encontrados, é a proposição de paradigmas alternativos, inclusive para as organizações e para elaborar esses contra modelos, necessitar-se-á contar com o apoio dos cientistas e dos intelectuais capazes, com sua atividade inventiva, de demonstrar aos dirigentes, do setor público e do privado, que não existe apenas a solução imposta por eles, mas que é possível encontrar um número infinito de outras, por vezes muito melhores e que possibilitem harmonia entre o ambiente e as pessoas que desfrutam deste.
Ainda se observa que, sob pressão da sociedade ou de alguns grupos, uma mudança de percepção acerca das responsabilidades empresariais e de como o homem deve relacionar-se com o ambiente e com os seus semelhantes é demandada. Também houve uma conscientização de que não há um “mundo dos negócios” a parte dos demais, mas que existe sim, um mundo vivo, dinâmico, complexo, repleto de interfases e possíveis diálogos com a e na biodiversidade. Mundo esse onde os negócios são um dos importantes meios, no qual se concretiza e agiliza as interações necessárias para sobrevivência, desenvolvimento e evolução humana.
Dessa forma, a partir de 1990, percebe-se que as corporações começaram, como já mencionado, por pressão ou por conscientização, incisivamente, a se comprometer com o desenvolvimento social e ambiental, aperfeiçoando suas ações para que tenham impactos positivos na sociedade em que estão inseridas. Com isso, surge a preocupação com a Responsabilidade Social Empresarial (RSE), a qual foi definida pelo Instituto Ethos como sendo
[…] a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos como os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuros, respeitando a diversidade e a redução das desigualdades sociais.
Robert Dunn, precursor do movimento de RSE no mundo, afirma que essa Responsabilidade deixou de ser algo discretamente vinculado ao cotidiano das empresas, passando a fazer parte, nos últimos dez anos, de seus negócios, vinculando-se à sua missão estratégica e a tudo que as organizações fazem, refletindo na imagem e reputação dessas.
Para que o apontado por Dunn aconteça, a estratégia a ser pensada para a SE de uma corporação deve estar integrada, de forma intrínseca, coerente e transversal, com as demais, e basear-se no desenvolvimento de um vasto conjunto de comportamentos, práticas e processos, apoiados em três vertentes, as quais são consideradas como imprescindíveis para a atuação das empresas na contemporaneidade, a saber: o social, o ambiental e o econômico, uma vez que são intrínsecas à dita estratégia de SE. Essas vertentes constituem o famoso tripé da sustentabilidade, o qual chega para orientar as tomadas de decisão organizacionais. Conhecido como triple bottom line , ou seja, os três pilares do futuro da economia sustentável, concebido por John Elkington na década de 1990.
Vale a pena entender o que vem a ser cada “perna” nessa dinâmica:
- o social: refere-se ao tratamento do capital humano de uma organização ou da sociedade, ou seja, esse termina por envolver: salários justos, adequação a legislação trabalhista, ambiente de trabalho agradável e seguro, investimento de capacitação nesse capital, bem como os efeitos da atividade econômica nas comunidades vizinhas ao empreendimento;
- o ambiental: centra-se no capital natural de uma empresa ou sociedade, focaria no dito meio ambiente. Assim, o papel organizacional seria pensar nas formas de amenizar e compensar os seus impactos nesse meio, considerando-se, principalmente, a legislação ambiental;
- o econômico: abrangeria o resultado econômico de uma corporação, considerando-se os outros dois pilares, sendo que o observado é que as empresas, principalmente as brasileiras, atuam de forma imediatista e voltam seus esforços/preocupações precipuamente para angariar recursos financeiros, acreditando que esse seja a única forma de garantir o seu futuro, o que, já se provou ser um raciocínio falho, mas voltarei a este ponto nas próximos colunas.
Nota-se, com o exposto, que o entendido por responsabilidade social e pela ambiental caracteriza-se como pilares da SE nos negócios.
Cabe então entender o que vem a ser o termo “sustentabilidade”, o qual possui vários significados, mas que pode ser entendido, de forma geral, como sendo prover o melhor para os seres humanos e para o ambiente no presente sem perder de vista o futuro, uma vez que outras gerações ainda habitarão esse planeta e precisam suprir igualmente as suas necessidades.
Dessa maneira, a sustentabilidade está relacionada a uma visão de longo prazo e se constitui em fator de impulsionamento para a empresa, a qual, atuando sob esse conceito; consegue conduzir suas ações de forma ética. A organização precisa contribuir com o desenvolvimento da sociedade como um todo, monitorando os impactos econômicos, sociais e ambientais de suas ações em relação aos diversos públicos de seu interesse, sendo a preocupação com os seus stakeholders essencial para a concretização das operações sustentáveis de uma corporação.
Dessa forma, um comportamento sustentável requer planejamento e gestão dos negócios com peculiaridades inerentes ao preconizado pela dita SE. As empresas têm de se responsabilizarem, em longo prazo, em estabelecer os princípios de comprometimento com os aspectos sociais, bem com a integridade e preservação do meio ambiente, sem esquecer o elemento econômico, como já destacado, primordial para a sua sobrevivência.
Esse contrato, que as organizações empreendem com o futuro do planeta e dos seres humanos que nele habitam e os que ainda habitarão, é medido por meio da atuação corporativa, a qual deve versar acerca da utilização empenhada e moderada dos recursos necessários para que a atividade empresarial se concretize, sejam esses humanos, econômicos, sociais/culturais ou ambientais, objetivando o desenvolvimento consciente das ações dessas empresas, que terminam por desempenhar um comportamento ético. Essa é a base da SE.
A próxima coluna versará sobre a Responsabilidade Ambiental Empresarial, visando-se entender um pouco como essa se constituiu e a sua conceituação. Até lá…