Vivemos hoje a era das Fake News, onde milhares de informações falsas que chegam até nós de forma deliberada, seja através de notícias mal elaboradas ou publicações e postagens que , por interesse ou apenas gratuitamente, visam disseminar a desinformação, fazendo uso de fontes duvidosas ou mesmo sem citar fonte alguma.
As redes sociais são muito usadas para essa prática, pela sua facilidade de disseminação. São “notícias” de todas as áreas, inclusive as que se referem à sustentabilidade.
Preocupada com o impacto dessa prática na sustentabilidade, pesquisei os maiores “mitos” que circulam na internet, mas também tentei lembrar dos comentários presenciais que, vez ou outra, surgem como se fossem verdades estabelecidas. Obviamente, se eu fosse elencar todos os “mitos” da sustentabilidade, este artigo ficaria demasiadamente extenso. Por isso, escolhi os mais comuns. Então vamos lá, ao clássico estilo das listas de “Mito ou Verdade”:
- Arquitetura sustentável é algo muito caro: (MITO)
Porque, na realidade, a verdadeira arquitetura sustentável é pautada em primordialmente em atitudes e soluções de projeto, de modo que o cliente nem perceberia se o arquiteto não apontasse que a prática sustentável foi adotada. São soluções que não irão prejudicar em nada nos gastos da obra, mas que são fundamentais para dotar o edifício de uma boa qualidade acústica, térmica e ambiental, o que impactará (inclusive economicamente) na melhoria da qualidade de vida do futuro habitante.
Mesmo se a construção necessitar de uso de tecnologias para ser sustentável ou gerar economia de algum recurso, ela custará, em média, apenas 5% a mais do que a construção convencional.
Se está escrito na embalagem do produto ou material que ele é sustentável, então é sempre verdade: (MITO)
Infelizmente, devemos ficar atentos. Neste tópico, observamos a prática do chamado “greenwhash”, que são informações duvidosas sobre o real compromisso do produto/empresa com a sustentabilidade. “Greenwashing” significa, literalmente, “lavagem ou banho de verde” e refere-se à prática das empresas em dar uma mascarada na real qualidade sustentável do produto, para ter melhor desempenho nas vendas e, como se diz popularmente, “ficar bem na fita”. Neste caso é ficar bem na percepção do consumidor.
E os fabricantes nem sempre precisam mentir, basta apenas ocultar informações. A embalagem pode até mostrar algumas ações positivas da empresa em relação com o meio ambiente, mas essas informações distraem o comprador sobre o real impacto ambiental que ela também causa e que, obviamente não é citado.
Muitas vezes o produto traz mentirosamente no seu rótulo a informação que possui material reciclado, ou que é produzido sem agredir o meio ambiente, somente porque virou “moda” e dará uma aura de produto “consciente”, quando o real intuito é apenas fazer disso um marketing para cobrar mais.
Para minimizar essa prática existem os chamados selos de sustentabilidade, que são certificações elaboradas por organizações independentes, que verificam e atestam se as empresas, de fato, são sustentáveis no conjunto de suas ações e processos produtivos. Mas é claro que é possível encontrar empresas realmente responsáveis independentemente desses selos.
- O potencial de economia é inversamente proporcional ao custo da obra. (VERDADE)
Poderá ser verdadeiro, se as estratégias de projeto forem “passivas”, de forma que o edifício funcione de forma natural em todas as épocas do ano. Os sistemas passivos empregados em projetos são muito baratos e quase imperceptíveis ao cálculo final da obra, pois ele tem somente a ver com projeto e planejamento da implantação do terreno e da obra, diferentemente dos sistemas ativos (como, por exemplo ar condicionado), que geram tanto custo de implantação quanto de manutenção e alta despesa em sua utilização.
É na análise inicial de um terreno que várias soluções devem ser tomadas, para que a obra, e posteriormente o uso do edifício, possam trazer melhorias e economia para o proprietário e/ou usuário.
Na fase de operação do edifício que o usuário vai perceber, concretamente, todo o planejamento que foi feito em projeto, especialmente em relação ao conforto e economia no uso do espaço.
A arquitetura realmente sustentável traz mais saúde, bem-estar e produtividade para o ser humano. E isso é muito bem-vindo. Nos últimos 20 anos, 6 de cada 10 lares apresentam perigos à saúde de seus ocupantes (fonte: UL). Num edifício mal planejado, os níveis de alergênicos podem chegar a ser 200% mais altos.
- A Arquitetura sustentável só se preocupa com o meio ambiente? (MITO)
A Arquitetura tem enorme preocupação com o meio ambiente, já que a construção civil é um dos setores que mais causam impactos ambientais. Mas não é só isso. Cerca de 40% da energia elétrica gerada no mundo são utilizadas pelos edifícios. Além disso, é um dos setores que mais geram resíduos sólidos e que mais consomem recursos naturais. Das emissões de gases de efeito estufa, 30% são emanados pelos edifícios. Em uma construção sustentável, podemos reduzir em 35% as emissões de CO2; 20% a 50% nos consumos de energia; 40% a 50% na economia de água e 50% a 80% nos resíduos sólidos. Mas o que a arquitetura faz além de melhorar o bem-estar e a qualidade de vida do usuário? Ela pode também trazer muita economia durante a obra e na fase de operação dos edifícios, direcionando esses lucros para outros investimentos.
Assim, é preciso desfazer esses mitos, pois eles são grandemente gerados pelo desconhecimento sobre o que realmente é a sustentabilidade como um todo e não apenas na arquitetura. A arquitetura sustentável, nada mais é do que um sério planejamento de projeto, visando economia, bem estar e reduzindo os impactos ambientais, tanto na construção como na fase de operação de um edifício.