Agricultura e mudanças climáticas. Segundo a Organização das Nações Unidas, mudanças climáticas são as transformações nos padrões de temperatura e clima que ocorrem em um longo período de tempo.
Sabe-se que as atividades humanas, desde o ano de 1800, vem sendo o principal impulsionador das mudanças climáticas. A queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás, são os responsáveis pela geração de emissões de gases do efeito estufa (como dióxido de carbono e metano, por exemplo), os quais retém o calor advindo da radiação solar e, portanto, geram aumento da temperatura ambiente.
No setor agrícola, as mudanças climáticas também geram grande preocupação, visto que a agricultura tem relação direta com o clima. Atualmente, 13,24% da área total agrícola do Brasil é irrigada, enquanto que a grande maioria são áreas cultivadas em sequeiro e, portanto, dependentes das chuvas. Estas chuvas, tão essenciais, podem sofrer variações na sua frequência e intensidade devido às influências causadas pelas mudanças do clima. Além disso, eventos climáticos extremos, como desastres naturais, secas, alagamentos, geadas e extremos de temperaturas e chuvas são outros fenômenos que podem acometer as áreas produtivas.
As mudanças climáticas podem afetar vários aspectos envolvidos na produção agrícola. Tais aspectos estão relacionados com a disponibilidade de água pelas plantas, fertilidade dos solos, dinâmica de pragas e doenças, salinização dos solos, entre outros.
A alteração do zoneamento das culturas agrícolas é outro fator preocupante. O zoneamento agrícola de risco climático, por definição, é um estudo que visa identificar regiões e épocas de menor risco climático para o plantio das culturas. Para isso, leva em consideração dados de clima, solo e os ciclos das cultivares. Segundo as projeções advindas de simulações em modelos de previsão de mudanças climáticas, é verificado que, para algumas localidades, poderá haver um maior número de ocorrências de anomalias positivas ou negativas de temperatura do ar e, principalmente, no regime de precipitação. Diante destes cenários, áreas que atualmente são aptas para a produção de uma determinada cultura poderão se tornar inaptas para a produção da mesma, visto que cada cultura agrícola possui exigências climáticas específicas.
Portanto, faz-se necessário a busca por formas de reduzir os danos advindos das mudanças do clima e também se adaptar às condições climáticas desfavoráveis. Dentre as práticas na agricultura que são conhecidas por reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera, além de otimizar o uso do solo e trazer benefícios para o manejo das culturas, estão: Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF); uso do sistema de plantio direto (sem aração e gradagem do solo); uso de culturas mais tolerantes à seca, e o emprego de tecnologias que facilitem a gestão de riscos para tomada de decisões.
Logo, há um enorme desafio em trazer a temática de mudanças climáticas para o segmento do agronegócio nacional. Em um mercado em que o foco quase sempre é a próxima safra, discutir cenários climáticos para os próximos anos e décadas nem sempre é facilmente assimilado. O Brasil, em poucos anos, será o maior produtor e exportador de alimentos do mundo. Sabendo disto, como as mudanças no clima, que já estão ocorrendo, poderão afetar essas projeções de crescimento? Certamente, esse assunto ainda será muito discutido. Portanto, temos que estar preparados e não deixar a responsabilidade apenas para os sucessores do Agronegócio.
— Artigo produzido pela Climatempo em sua coluna aqui no INBS.