Mudanças climáticas - Instituto Brasileiro de Sustentabilidade - INBS

Mudança climática, medo global

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Recentemente um estudo da organização Pew Research Center buscou monitorar e constatar, em quarenta países de todo o planeta, o que suas respectivas populações mais temiam, sob um aspecto global. O estudo foi publicado em julho deste ano e apresentou resultados surpreendentes, todavia compreensíveis se analisadas suas particularidades. Dentre as preocupações está a mudança climática.

A presente matéria tem como objetivo analisar os resultados apresentados, direcionando seu foco sobre aqueles diretamente ligados a temas ambientais. O estudo antecede a Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática, a qual ocorrerá em dezembro deste ano. Os resultados apresentaram as seguintes preocupações: Mudança climática, Estado Islâmico/terrorismo, instabilidade econômica, Iran, China e Rússia.  A mudança climática se apresentou como a principal causa de preocupação das pessoas, embora os resultados tenham variado de acordo com o país, a região ou situação econômica média da população submetida à pesquisa.

Em países em desenvolvimento, considerados emergentes, como Brasil, Argentina, México, Chile, China, Índia e África do Sul, a ameaça da mudança climática afigura como o principal temor das pessoas. Por sua vez, nações desenvolvidas, como Estados Unidos, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Japão, Itália, França e Alemanha, dentre outras, temem, acima de tudo, possíveis ataques ou ações do grupo Estado Islâmico – podendo tal resultado ser entendido, de forma ampla, como ações terroristas em geral. Na Rússia, o maior temor é a instabilidade econômica. Alguns poucos países do Leste Europeu ainda temem eventuais ações russas.

No total, dezenove das quarenta nações pesquisadas colocaram a questão climática em primeiro lugar. Na América Latina, por exemplo, o percentual dos entrevistados que apontaram tal temor foi de 61%. Em países como Brasil e Peru, afetados pela constante questão do desmatamento florestal, principalmente da Floresta Amazônica, em torno de três quartos – 75% – dos entrevistados apresentaram preocupação com a mudança climática. Outros países que também apresentaram um elevado índice de temor foram Índia, em torno de 73% e Filipinas, 72%. A nação com o maior percentual de preocupação frente ao tema em questão foi Burkina Faso, com 79%.

Do ponto de vista político é interessante observar também que na Europa, em países como Inglaterra (Reino Unido), Itália, Espanha e França, apesar de a mudança climática não ser a principal ameaça apresentada, pessoas que se declaram politicamente de esquerda possuem uma maior preocupação com a questão, em detrimento daquelas que se consideram de direita. Nos Estados Unidos da América, embora o principal temor seja o Estado Islâmico, há também este mesmo desiquilíbrio: Democratas se preocupam mais com questões ligadas ao clima que os Republicanos, 62% contra 20%, respectivamente.

De fato é extremamente natural que as preocupações apresentadas anteriormente se concentrem sobre questões ligadas à mudança climática em países em desenvolvimento ou emergentes. Tais nações ainda encontram-se em processo de crescimento e progresso já experimentado por aquelas ditas de primeiro mundo, desenvolvidas.

Grande parte dos recursos naturais do planeta situa-se em países em desenvolvimento, como por exemplo a Floresta Amazônica na América do Sul, envolvendo países como Brasil, Peru, Bolívia, Venezuela e Colômbia, grandes bacias hidrográficas brasileiras, chinesas e indianas, a rica fauna africana, etc.

Ao mesmo tempo, grandes indústrias e corporações buscam expandir sua atuação ao longo de todo o globo, fixando suas atividades poluidoras e impactantes principalmente em nações não desenvolvidas, por inúmeros motivos – leia-se vantagens: O baixo custo da mão de obra, a alta oferta da força de trabalho, acesso fácil e descompromissado a recursos naturais, governos omissos, baixos níveis de conhecimento e educação por parte da população, baixa concorrência, etc.

Esses elementos são responsáveis por gerar uma ação descompromissada de tais corporações frente ao meio ambiente, refletindo em grandes impactos negativos fomentados por inúmeras políticas governamentais, de mercado e institucionais.

Assim, frente ao maior contato com a realidade da degradação ambiental, populações de países não desenvolvidos tendem a expressar uma maior preocupação com os rumos da relação homem x meio ambiente empunhados pela humanidade, aflorando, desta forma, no temor à mudança climática.

São também, em tais países, onde catástrofes naturais apresentam os maiores impactos, uma vez que elementos de minimização dos prejuízos – sejam financeiros ou vitais, como tecnologias de previsão, estruturas de suporte e contenção e fatores emergenciais e de recuperação, são mínimos ou escassos.

Enfim, nos países onde é mais recorrente o contato das pessoas com a degradação ambiental e com catástrofes naturais, a tendência é que a população considere como a maior ameaça global a mudança climática e seus efeitos.

Por sua vez, a ideologia desenvolvida e massivamente apresentada à população centra-se na despreocupação com a questão da mudança climática, relegando ao assunto baixa importância, tanto em pautas governamentais quanto àquelas econômicas e institucionais. Assim, grande parte da população, já vivendo sob a ótica do medo iminente, principalmente após os ocorridos em 11 de setembro de 2001, vê no terrorismo, diga-se Estado Islâmico, sua principal ameaça.

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