Questões envolvendo a degradação do ambiente e como esse é desrespeitado pelas empresas já renderam produções cinematográficas que atraíram a atenção para esse enorme problema. “O Preço da Verdade”, baseado em fatos reais, é um desses e aborda a luta do advogado, Robert Bilott, para provar que a atuação da gigante DuPont era, no mínimo, irresponsável ambientalmente. O roteiro foi inspirado na reportagem intitulada de “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont”, publicado no jornal “The New York Times”, em 2016.
Essa produção é centrada em Rob Bilott (interpretado brilhantemente por Mark Ruffalo) que advogava em favor das empresas do setor químico. Contudo, a vida desse muda quando é procurado por dois agricultores, os quais acreditam que a fábrica local da DuPont, batizada com o nome do dono bilionário, está despejando lixo tóxico em um aterro. Isso explicaria a destruição de campos e a morte do gado.
Ao se debruçar sobre esse caso, Bilott descobre fatos ainda mais terríveis. Assim, decide enfrentar a DuPont nos tribunais, com a ajuda de seu parceiro na empresa, Tom Terp (Tim Robbins). A partir daí, inicia uma luta que dura 15 anos, abala seu casamento com Sarah (Anne Hathaway) e o deixa em uma situação complicada no seu trabalho, além de comprometer sua saúde.
A referida empresa envenenou o ambiente e, principalmente, os seres humanos (inclusive suas e seus funcionários), mas isso não é argumento para se ganhar facilmente o processo. O que se presencia é que é muito difícil enfrentar uma empresa tão poderosa e que a população acaba induzida a ficar do lado de uma empresa como a DuPont por causa dos benefícios que ela oferece (isso não nos lembra alguns casos das minas gerais nossas???).
Sabemos hoje, graças a esse lutador incansável, que 99% da espécie humana que habita este planeta possui produtos químicos, os quais não há como expelir de nossos corpos. Isso mesmo: você, eu e a humanidade temos essas substâncias em nossos organismos e, dependendo da concentração, desenvolveremos uma série de doenças bem sérias e mortais. Sabe o pior: a organização, em questão, sabia o quê estava fazendo.
As empresas são necessárias e não há como negar isso, contudo, o lucro pelo lucro desenfreadamente fere o próprio princípio organizacional que é:
“A função social da sociedade empresária é atingida quando ela atende aos princípios da liberdade, igualdade, dignidade, solidariedade, democracia, reduz ou procura reduzir as desigualdades sociais e cumpre os valores ambientais” (Horácio Eduardo Gomes Vale, advogado público, Brasília).
Ou seja, a “[…] empresa cumpre sua função social ao gerar empregos, tributos e riqueza, ao contribuir para o desenvolvimento econômico, social e cultural da comunidade em que atua, de sua região ou do país, ao adotar práticas empresariais sustentáveis visando à proteção do meio ambiente e ao respeitar os direitos dos consumidores, desde que com estrita obediência às leis a que se encontra sujeita” (PL 1.572/2011, Câmara dos Deputados, que disciplinará o Novo Código Comercial/Empresarial, Artigo 7°). Esse Projeto de Lei está arquivado na nossa Câmara, apesar da sua importância para toda a nação. Pode? Sua aprovação estabeleceria alguns limites de atuação corporativa importantes para o Brasil.
Repensar limites de atuação empresarial; comprometer-se realmente com os princípios da sustentabilidade corporativa e não isso ser apenas a explicitação de um discurso; ter um sistema jurídico baseado em leis fortes do Direito Comercial e Empresarial; e ter uma sociedade consciente e vigilante são posturas demandas na atualidade. A pergunta que “não quer calar” é:
…e você vai ficar fora disso ou também vai se comprometer?