No último mês de março, tive a oportunidade incrível de vivenciar uma experiência no mundo da construção sustentável. Presenciei um curso sobre a técnica construtiva Taipa de Pilão.
Normalmente os bioconstrutores costumam chamar esses “cursos” de vivências, pois experienciando a técnica, aprendendo a construir algo com as ferramentas adequadas, você automaticamente percebe que está assimilando alguns conceitos mais interessantes da sustentabilidade, como a valorização do coletivo, do colaborativo, humanismo, do aprendizado em comunhão e da humildade de se colocar no lugar do outro, valorizando-o sem julgamentos, para promover algo bom para a comunidade.
O envolvimento com a sustentabilidade tem me mostrado que toda busca por um mundo melhor não fará sentido se não pensarmos no coletivo. Por isso a importância da vivência. Quem vive, vive com o outro.
A procura por materiais mais ecológicos, que não agridam o ser humano e o meio ambiente, está ligada a uma forma de convívio e colaboração com o outro.
Mas, afinal, o que é a taipa de pilão?
A Taipa de Pilão é uma técnica milenar utilizada em vários países, que chegou ao Brasil durante o período colonial e que, hoje, através de novas tecnologias e estudos, recebeu um aprimoramento técnico para adaptando-a ao atual contexto.
Trata-se de uma técnica em que se utiliza uma fôrma de madeira previamente dimensionada, conforme projeto de arquitetura, para apiloar a terra, estabilizando-a para erguer a parede. Conforme a espessura da parede, esse elemento se torna autoportante não necessitando de uma estrutura independente para suportar a cobertura.
Esta técnica já foi normatizada pela ABNT, pelo número NBR 17014:2022.
Aí, vêm aquelas perguntas que frequentemente ouço: “Essa técnica é bastante resistente e durável?”, “Quanto tempo dura uma construção nessa técnica?”.
Sim, ela é muito durável. E completo a resposta com um questionamento para reflexão: Se levarmos em conta que ainda estão em pé construções de taipa de pilão com mais de 2000 anos de idade, por que consideramos a construção convencional (de pilares e vigas de concreto) mais duráveis, se esta última existe há apenas 150 anos?
Quais as vantagens da taipa de pilão?
Dependendo da localização do terreno, existe uma economia considerável na compra do material. Se nesse terreno houver disponibilidade de terra adequada para a construção, ou local próximo para a compra desse material, a construção com terra fica mais barata que com cimento.
Essa técnica não é difícil de executar, não necessitando de mão de obra especializada. Ou ainda, se você for adepto ao “faça você mesmo”, e leva jeito para tal atividade, poderá aprender a técnica e com o auxílio de um arquiteto, poderá construir sua própria residência com a ajuda de um ou dois pedreiros, diminuindo os custos da mão de obra.
E para obras de grande porte?
É fantástico, porque hoje, com a aprimoramento da técnica, você pode mecanizar sua obra. Sim, aumentará o custo dela mas, por outro lado, otimizará em tempo sua obra.
Essa técnica permite economizar nos acabamentos também, já que a parede, quando erguida, já vem “acabada”, por ser extremamente decorativa, com efeito tão interessante que é até “pecado” escondê-lo.
Nesse caso é necessário apenas a utilização de algumas demãos de uma resina à base de água para proteger a parede de possíveis abrasivos.
A manutenção posterior é a reaplicação da resina de tempos em tempos.
Taipa de pilão: Qual seu comportamento em áreas molhadas?
Esses espaços podem receber reboco e assentamento de revestimentos, como nas construções convencionais.
A qualidade do ar no ambiente interno de uma construção em taipa de pilão é perfeita, pois os materiais usados não emanam elementos contaminantes ao ambiente. Não mofa (se executar de forma correta, claro), pois a parede é viva e, dessa forma, a umidade transita de dentro para fora e vice-versa, não mofando o material.
Por conta disso, encontramos cada vez mais pessoas dispostas em construir com essa técnica, pensando de forma mais saudável e que não agridam nossa saúde e do planeta.
