Comecemos a nossa reflexão desta coluna com alguns dados:
- atualmente, 7,6 bilhões de pessoas habitam a Terra e, até 2050, a população chegará a 9 bilhões de acordo com Organização das Nações Unidas (ONU);
- a produção de carne animal é responsável por 15% da produção de gases do efeito estufa;
- para produzir 1kg de carne animal, são necessários 15 mil litros de água;
- a indústria alimentar nos moldes atuais, só alimentaria em torno de 50% da população que habitaria o nosso planeta em 2050;
- a humanidade, a cada dia que passa, ganha mais consciência sobre sustentabilidade e a escassez dos recursos naturais.
Diante desse cenário de cada vez mais escassez alimentar animal e de recursos não renováveis, bem como na busca alimentos saudáveis e ações sustentáveis, foi que surgiu o conceito FoodTech, uma intersecção entre comida (= food) e tecnologia (= tech, abreviatura de technology). É um termo utilizado quando se utiliza a tecnologia para melhorar a agricultura, a produção de alimentos, a cadeia de fornecimento e o canal de distribuição, sendo qualquer tecnologia aplicada à maneira como produzimos, vendemos ou servimos alimentos.
FoodTech, na prática, são empresas, atuantes no setor da gastronomia, que produzem soluções e inovações para a indústria alimentar, no caso, para a elaboração de alimentos sustentáveis.
Dessa forma, a tecnologia FoodTech é uma ótima ação empresarial voltada para a sustentabilidade, aliada para melhorar a nossa produção de alimentos e quem sabe ajudar a repensar conceitos sem abrir mão de nossas preferências palatáveis, principalmente, àquelas de origem animal.
Estima-se que, em 2020, o segmento de FoodTech deve movimentar em torno de 250 bilhões de dólares.
Esse mercado é composto por alguns peculiares consumidores. Ana Carolina Bajarunas, da Builders Construtoria, aponta que há vegetarianos, veganos e flexitarianos. Estes últimos são aqueles que seguem a dieta vegetariana, mas se permitem comer carne 1 vez por mês em média. São focos de pesquisas da FoodTech no tocante do desenvolvimento de carnes cultivadas em laboratórios (Brasil não as tem) e as produzidas com proteínas originárias de vegetais. Seriam as tidas carnes vegetais com sabor e textura da animal.
Também é um mercado potencial e em expansão. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) afirma que 8 em 10 brasileiros se esforçam para ter uma alimentação saudável, mas veem seus esforços frustrados por não conseguir identificar esses. Diante disso, observa-se que há um segmento a ser explorado.
O FoodTech Movement tem apenas 1 ano no Brasil. Iniciou com 53 empresas e hoje já conta com 154 mapeadas. Contudo, está 7 anos mais atrasado do que os considerados mercados maduros (Israel, Inglaterra, Alemanha, Holanda e San Francisco nos Estados Unidos).
Algumas empresas merecem destaque nesse inovador e desafiador segmento de FoodTech. Vamos conhecê-las.
The Not Company (ou “a não-companhia”)
Há quatro anos, foi fundada a NotCo pelo economista Matías Muchnick (atual CEO), pelo cientista da computação Karim Pichara e pelo especialista em biotecnologia Pablo Zamora. Recentemente, Jeff Bezos, um dos homens mais ricos do mundo, tornou-se sócio e essa startup já sonha em ser global.
O negócio dessa empresa é desenvolver um algoritmo ou software próprio, a partir de inteligência artificial, capaz de combinar diversas substâncias presentes em plantas para gerar sabor, consistência e textura iguais aos produtos de origem animal.
Para chegar a esse efeito, inicialmente, fazem um “raio-x” da composição desses produtos (atualmente focam no leite, queijo, ovo e maionese) e, posteriormente, buscam nas plantas esses componentes e produzem similares aos de origem animal. Atualmente, já possuem a não-maionese, o não-leite e o não-queijo.
https://demandsolutions.iadb.org/en/speakers/detail/matias-muchnick
Matías Muchnick afirma que a ideia de sua startup é permitir que as pessoas comam melhor sem nem saber. Também assevera que o termo “vegano” assusta e, por esse motivo, não é utilizado na comunicação da NotCo. 92% dos consumidores dessa empresa são não veganos e não vegetarianos, todavia, são pessoas que se preocupam em comer algo mais sustentável e saudável.
Muchnick ainda defende uma comunicação diferente para os brasileiros: essa deve ser para educá-los. “Ninguém quer uma maionese nova, mas quer uma conversa em torno de um produto. A forma que comunicamos e contamos a história às pessoas é a chave de sucesso da empresa”. Também acredita que pessoas pagam mais para se sentirem melhores.
LC e Fazenda Futuro
https://www.lanchonetedacidade.com.br/futuro-burger
A Lanchonete da Cidade, a LC, situada no Rio de Janeiro, apostou na venda de hamburgers de carne vegetal. Ricardo Garrido, sócio, previa uma venda de 200 desse por dia, mas o que presenciou, desde o lançamento, é uma saída média de 600 por dia.
Para oferecer seus hamburgers vegetais, a LC selecionou uma empresa para produzí-los. O desenvolvedor e fornecedor dessa carne vegetal triturada e com sabor de carne animal é a Fazenda Futuro, a qual pesquisa a tecnologia em torno daquele produto. Marcos Leite, fundador, advoga que o grande desafio agora é igualar o preço da unidade de carne vegetal triturada (R$ 3,15) com a da animal (R$ 2,30).
Behind The Foods – “construindo o futuro da proteína”
A startup Behind The Foods produz uma versão do hambúrguer vegetal com cara/textura, jeito e gosto de carne de origem animal. Apesar do seu primeiro produto ter sido a carne triturada vegetal, essa empresa almeja focar em proteínas de origem vegetal. Seu objetivo é “construir o futuro da proteína” e disponibilizar opções análogas aos “originais” de leite, queijo, carnes de boi, porco, aves e peixe.
O seu primeiro produto levou 3 anos em processo de desenvolvimento para não esbarar em patentes da área e teve um investimento de 400 mil reais na área de Pesquisa & Desenvolvimento. Tem a proteína da ervilha e da batata como base para o seu hamburger.
Leandro Mendes, seu CEO e fundador, defende que a comida do futuro é metade vegana com a outra tecnológica.
Grupo Mantiqueira
O Grupo Mantiqueira, em sua Granja, é responsável pela maior produção de ovos da América do Sul. Atualmente, possui 11,5 milhões de galinhas em suas 4 unidades: 2 em Minas Gerais, 1 no Mato Grosso e 1 no Rio de Janeiro. Entretanto, seu maior desafio agora é popularizar o seu ovo vegetal.
Esse ovo é um pó a base de ervilha usado, por enquanto, apenas para feitura de pães e bolos. É comprovado que deixa o bolo mais umedecido e mais compacto que o de origem animal. Para que o consumidor não estranhe, é vendido na mesma embalagem tradicional do ovo da galinha.
https://www.ovosmantiqueira.com.br/
Por fim, concluo afirmando que FoodTech está chegando para inovar e solucionar problemas ambientais e alimentares, possibilitando as mesma experiências palatáveis que estamos acostumados na atualidade. Enquanto que a Sustentabilidade é a palavra obrigatória da nossa época tanto de quem produz como de quem consome.