As mudanças climáticas referem-se à variação do clima global ou regional em relação às médias históricas. Essas médias são calculadas com base em, no mínimo, 30 anos de dados e podem ser comparadas a médias anuais a fim de verificar variações positivas ou negativas em variáveis como: temperatura média, chuvas, evapotranspiração, umidade relativa do ar, entre outros.
Os impactos dessas mudanças ao longo do tempo afetam desde a produção de alimentos até o aumento de desastres naturais, como enchentes e secas extremas. Certamente, a mitigação desses impactos é um dos maiores desafios do século XXI.
Além dos impactos ambientais, essa variação no clima pode afetar, também, como o ser humano se comporta em sociedade. Segundo uma revisão de inúmeros artigos publicada neste ano pela Universidade Cornell em Ithaca, Nova York, as mudanças climáticas podem afetar tanto a saúde física quanto mental das pessoas. As reações psicológicas comuns a desastres climáticos extremos, como seca prolongada, enchentes e furacões incluem depressão, transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade e aumento da tensão familiar.
De acordo com a revisão, a temperatura média do ar está diretamente ligada à qualidade de vida de um local em que, quanto mais quente é o inverno em um país, mais feliz é sua população; enquanto que quanto mais quente é o verão, mais infeliz é a população desse país. Dessa forma, devido ao aquecimento global, é previsto que países em latitudes mais altas (América do Norte, Europa, Ásia) se tornem mais feliz ao longo do tempo do que quando comparados a países localizados nas faixas tropical e subtropical (América do Sul, África).
Além disso, o aumento da temperatura pode estar ligado ao aumento de conflitos em maior (entre grupos de pessoas) e menor escala (entre pessoas). Dentre as razões que podem explicar essa relação é o fato de que à medida que as temperaturas sobem acima dos níveis de conforto térmico, os indivíduos sentem-se mais irritados e hostis.
Um outro impacto das mudanças climáticas é a redução no regime de chuvas e consequente aumento em episódios de seca, mesmo em meses considerados chuvosos. Dessa forma, conflitos indiretos podem ocorrer devido a dificuldades econômicas e escassez de recursos. Para quem depende diretamente das chuvas para seu sustento, esses impactos são ainda maiores. Agricultores australianos listaram como as principais fontes de estresse em suas vidas, os problemas financeiros e as secas prolongadas. As secas estão associadas à queda das taxas de emprego, bem como ao aumento da pressão financeira entre os agricultores.
Condições de seca também podem estar relacionados a déficits no desenvolvimento cognitivo de crianças, desnutrição, falta de acesso a escola e aumento do trabalho infantil. A revisão cita um estudo que mostra que crianças rurais no Zimbábue expostas a condições severas de seca durante os dois primeiros anos de vida tiveram taxas mais altas de desnutrição e desempenho prejudicado nos primeiros anos escolares.
Por outro lado, o excesso de chuvas e, portanto, de enchentes também impacta a saúde e qualidade de vida das pessoas. Em uma vila rural na Coréia foi constatado, além dos prejuízos materiais como perda de propriedades, um aumento nas taxas de depressão e TEPT na região. Deve-se destacar também os impactos indiretos como tensão conjugal, pressão financeira, e estresse devido a frustrações com os governos para prestação de assistência.
A poluição do ar é outra consequência das mudanças climáticas. Essa poluição está diretamente relacionada ao aumento de doenças respiratórias. As crianças são muito afetadas por essas doenças e por isso está ligado a uma baixa frequência e rendimento escolar. Os furacões são outra fonte de impacto e, de acordo com a revisão, condados americanos que vivenciaram furacões tiveram um aumento de 31% nos suicídios, enquanto que os condados sem furacões não apresentaram aumento. Fatores indiretos podem explicar esse fato, como o aumento nos distúrbios mentais causados por estresse, pelo deslocamento residencial e tensão familiar.
Dentro desse contexto, muitas populações não têm outra alternativa senão migrar no que é chamado de migração climática. A migração climática é comum quando nos referimos aos animais que já vem tendo a muito tempo que migrar e se adaptar as mudanças em seus habitats. Para os seres humanos, esse é mais um desafio das mudanças climáticas. Na região Nordeste do Brasil, por exemplo, é crescente o número de regiões que vem deixando de ter condições de abrigar uma população humana, aumentando as pressões em outras regiões e modificando completamente as vidas dessas pessoas. Em um documentário realizado em conjunto por instituições como Greenpeace e Engajamundo, chamado de “O amanhã é hoje”, é possível ver diversos impactos das mudanças climáticas no Brasil. Entre eles, a comunidade Nova Enseada na Ilha do Cardoso em São Paulo que teve que se deslocar devido ao aumento no nível do mar.
Apesar das dificuldades de se medir os impactos das mudanças climáticas na saúde e comportamento humano, há suficientes evidências sobre essas relações. Uma boa relação entre pessoas, empresas, governos, instituições e a natureza é essencial a uma vida plena e harmônica e por isso é essencial um debate aprofundado sobre o tema.
Segue a referência para quem deseja conferir o estudo no íntegra:
https://doi.org/10.1146/annurev-psych-010418-103023
Evans, G. W. (2019). Projected behavioral impacts of global climate change. Annual review of psychology, 70, 449-474.
Quer saber mais sobre mudanças climáticas? Confira algumas sugestões:
Palestra sobre mudanças climáticas – https://www.youtube.com/watch?v=EvXBKCIhkx4
Documentário o amanhã é hoje – https://www.youtube.com/watch?v=azrnx55oawQ